06 fevereiro, 2013

os meus cabelos brancos


Os meus primeiros cabelos brancos deram os seus ares de graça aos 24 anos. Foi uma herança passada pelo meu pai, que aos 20 já contava uma mão cheia deles na franja. 
Não sei se foi minha a autoria da descoberta, mas quando dei com eles (os brancos) adorava ficar plantada em frente do espelho. Os poucos fios perdiam-se por completo na imensa cabeleira (sempre tive e continuo a ter o cabelo comprido e muito denso), por isso gostava de resgatar aqueles três ou quatro e mimá-los qual Gollum do Lord of the Rings ("my preciouuusss"). Eram toda uma espécie diferente, um alienígena amistoso que tinha aterrado em cheio na minha cabeça. 
Recordo-me que ao relatar a novidade, a reacção devolvida por amigas do sexo feminino alternava entre o pânico absoluto (“horror”) e a piedade solidária (“coitadinha”). E também me recordo da S que, sem pudores, me aconselhava a fazer como ela: arrancar com a pinça os invasores brancos mal estes se atravessem a despontar. Tudo isto me parecia tontinho e completamente derivado de um fanatismo pelo politicamente correcto e pela eternidade da juventude.
A ver, é políticamente correcto e conveniente discursar sobre os aspectos positivos do envelhecimento, que o que importa mesmo é ter saúde, sentir-se bem na própria pele, focar nas coisas realmente importantes da vida. Coisas que a grande maioria de nós acredita, e bem, a 100%. Pergunto no entanto, onde está a causa de uma pessoa não se sentir bem na sua própria pele por ter cabelo branco? O que é que se extrai em parecer mais novo? Socialmente muito, claro. Talvez esteja aí o problema. Se existe a ideia generalizada de que ser jovem é bom (com os seus dissabores) e de que ser velho também o pode ser (com tantos ou ainda mais dissabores), onde começa e se prolonga a ilusão? A ilusão do querer parecer o que não se é. Por muito que nos tentemos convencer do contrário (e muito menos admitir), a velhice continua a ser uma assombração que (lá no fundo) ninguém quer ter por perto.
Não sou fundamentalista do naturalismo, e muito menos sou contra que cada um pinte a sua melena como bem lhe aprouver, desde que essa decisão seja consciente e individual. Não por convenção, por vergonha ou por os conhecidos(as) o fazerem.
Sei que me apela esta transformação física e adoro imaginar como será a minha farta cabeleira toda manchada de branco ou cinza. Também sei que, no momento em que me ache feia, pinto e pronto. Hoje, com 29 anos perdi a conta aos meus cabelos brancos e não preciso de os procurar, saltam bem à vista e competem com os outros.
No meio de tanto pensamento e ideias por formar, tenho só uma certeza. Não gostaria de ser, no futuro, uma mulher que, de tanto pintar, desconhece por completo o seu próprio cabelo.

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