Aquilo que algumas pessoas trabalhadoras ignora, ou na melhor
das hipóteses acaba por esquecer, é que a vida de um desempregado (categoria na
qual me insiro) não tem um horário delimitado. Com muita tristeza e frustração
apercebo-me através de desabafos com amigos e conhecidos a pré-concepção de que
o meu tempo é, na sua maior parte, livre de preocupações. Uma espécie de férias
onde retiro uma hora aqui-outra hora ali para procurar ofertas. Onde me quedo
passivamente a ponderar o sentido da existência e a curtir o conforto do lar.
Aquilo que não se recordam, ou nunca sentiram, é a urgência
constante. Esta busca que começa a partir do momento que desperto e termina no
momento em que encerro o computador e me vou deitar. As visitas cíclicas ao
Iefp, aos Portais de emprego, aos Jornais, as centenas de candidaturas não respondidas,
o palmilhar qual barata tonta instituições, empresas e associações e acreditar – sempre a acreditar – que a
presença física bate aos pontos a virtual, mesmo que por isso leve com sorrisos
amarelos e desinteressados, olhares quase suplicantes para desaparecer,
porque não há vagas nem dinheiro e talvez a realidade do desemprego não seja
tão fácil de encarar ali no sítio onde tanto se trabalha. O candidatar a áreas
que nada têm a ver com a minha formação, porque é mesmo assim que tem que ser,
para sobreviver: não encalhar, não estagnar, não afundar. E ouvir comentários irreflectidos
como “recepcionista? Andas a fazer imensas candidaturas para recepcionista...
pronto é a tua cena”. E aproveito para explicar, não. Não é a minha “cena”,
está a anos luz “da minha cena”, mas é uma opção, entre várias opções para as
quais também me candidato. Ser lojista também não é. E por incrível que pareça,
nenhuma das candidaturas que fiz para esse cargo foi bem sucedida. Ou ainda as
sugestões que, apesar de bem intencionadas, são ingénuas como “andas mesmo a
procurar em todo o lado? Tens de tentar. Já foste ao iefp? Estás inscrita? Porque
não vais mesmo às empresas? Já fizeste candidaturas espontâneas? Não basta ires
à empresas, tens que falar assim, falar assado, dizer isto, já fizeste?” E sim,
já fiz, já disse, já fui. E sim, continuo a fazer, a dizer, a ir. E se não
respondo mais a estas vossas perguntas, é porque estou saturada. Porque nelas
há um implícito de não me andar a esforçar o suficiente, e para mim,
sinceramente, é um murro na cara.
Tempos difíceis.
ResponderEliminarMuito.
ResponderEliminarAinda assim nada dura, há que continuar.
Julie
Vai passar, julie.
ResponderEliminarE sim, pode-se procurar em todo o lado e não achar. Conheço várias pessoas que já foram a todas as lojas de todos os shoppings, bombas de gasolina e CTT sem sucesso aparente.
Mas e se pudesses procurar em ti? Há-de haver algo que possas fazer que possa ser vendido ou trocado como bem ou serviço.
http://www.youtube.com/watch?v=3NUEXX_yOL0
Courage my love, obrigada pelo comentário e pelo teu conselho :) Gostei mesmo de ler, e mais ainda do vídeo (que tanto tem de bonito como de inspirador).
ResponderEliminarBeijo para ti.