23 janeiro, 2013

Os debates ideológicos na blogosfera nunca deixam de surpreender, de tão visceralmente conduzidos. Transformam-se rapidamente em lutas estoicas de honra, com muita indignação, muito insulto, muita chapada simbólica. Seja zico, pêpa, crianças hiperactivas (do cronista Henrique Raposo). E acaba tudo a atirar pedras, querendo mostrar à viva força que a razão está no seu lado.

Vamos simplificar?

1. Há crianças hiperactivas? 
Sim.

2. Há erros de diagnóstico? 
Sim, chama-se negligência médica.

3. Falta de educação e hiperactividade são o mesmo? 
Não.

4. Há crianças mal educadas? 
Sim, muitas.

5. Os pais, não podendo receitar medicação, podem influenciar médicos a diagnosticar hiperactividade só para drogar as crianças e não terem que se chatear tanto? 
Até podem tentar, se o conseguirem voltamos à negligência médica.

6. Existem pais que desculpabilizam a má educação dos filhos com o rótulo de hiperactividade? 
Sim, há gente para tudo.

7. Deve-se pensar que todos os pais que dizem ter filhos hiperactivos estão a encobrir falta de educação?
Não.

8. Se a hiperactividade é um diagnóstico relativamente recente (e que antes era visto como simples má educação) significa que é inválido? 
Não, pergunto-me se alguém duvidaria (por exemplo) da esquizofrenia.


É mesmo preciso insistir na luta hiperactividade vs má educação? 
Deixem-se de merdas.


2 comentários:

  1. 9. Existem profissionais de saúde que receitam ritalina e cafés ao pequeno almoço a putos para sossegar não a alma das crianças mas a dos pais?

    Sim. Cerca de 85% ( 30% são médicos de família, os restantes são psiquiatras que odeiam psicologia e psicoterapia, mas sobretudo psicanálise).

    (é a tua vez, falta o 10!!) :-) (és psi, right?)

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  2. Lá está, um ponto essencial (que poria também na negligência médica). Muitos psiquiatras abominam a psicologia, numa profunda ignorância e não vendo mais alternativas toca de prescrever. Também acontece (não tanto) com os médicos de família. Tive conhecimento através de um familiar, do caso gritante de um médico de família que se recusava a passar credenciais para consultas de Psicologia. E tudo por não acreditar na Profissão, em vez disso aconselhava exercício físico (para uma pessoa que na altura se estava a debater com abuso de substâncias e tinha regularmente alucinações auditivas).

    Sim, sou psi :) Penso que tu também, sim? ;) Ainda voltarei para o 10 (que isto já não são horas).

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